terça-feira, 7 de fevereiro de 2012

Loveless ou Terra Sem Lei

LI E RECOMENDO...


LOVELESS ou TERRA SEM LEI
Criado por Brian Azzarello e Marcelo Frusin


Roteiros: Brian Azzarello (100 Balas, Cidade Castigada)
Desenhos: Marcelo Frusin, Danijel Zezelj e Werther Dell´Edera
Cores: Patrícia Mulvihill, Martin Breccia e Lee Loughridge


Sobre Azzarello, uma opinião.


Brian Azzarello
     Gosto muito de Brian Azzarello. Sim, considero que sua série 100 balas é uma das melhores séries contemporâneas. E acho que Cidade Castigada - o arco em que revisita o personagem Batman é uma das melhores histórias do homem-morcego) resgatando um lado seu obscuro e pesado, quase como Frank Miller fez em Dark Knight Returns. isso sem falar em Coringa ou Lex Luthor Man of Stell, Todas ótimas parcerias com os monstros Eduardo Risso e Lee Bermejo.


     Pra mim, Brian Azzarello além de escrever diálogos ótimos, frios e cortantes como um fio de navalha, sabe retratar como ninguém tipos humanos - com todas as suas fraquezas e suas qualidades. Ele consegue de maneira magistral retratar o ambiente em que a história se desenrola. Seus personagens não são de papel e tinta, são de carne e sangue. Perdidos, derrotados, cruéis, falhos, terrivelmente verdadeiros.

     Além disso, cria tramas que fariam Dashiell Hammett e Raymond Chandler tirarem o chapéu. Ele é um escritor noir no verdadeiro sentido da palavra. Não são apenas cenários decadentes, ternos gastos e gente derrotada. Azzarello explora a alma humana e extrai o que de pior e melhor ela tem. 


Sobre Loveless


     Fazia tempo que não lia uma hq de faroeste tão boa. Loveless é um grande gibi e segue na linha de faroestes como Os   Intocáveis de Clint Eastwood,  ou o o moderno Bravura Indômita, mostrando pessoas reais e um novo olhar sobre os acontecimentos de uma das mais cruentas guerras civis que já houveram nos EUA com mais de 600 mil mortos..


     A história começa logo após a derrota do Sul, na guerra de secessãoWes Cutter volta ao lar após ter combatido ao lado dos confederados apenas para encontrar sua fazenda e sua cidade ocupadas pelas tropas do norte. E sua mulher, Ruth, exilada. Sobre a cidade um manto de mistério e medo. Aos poucos vai se descobrindo o que aconteceu na sua ausência. Wes se torna um simbolo de resistência a ocupação, desafiando a todos com suas atitudes. Pessoas que querem esquecer o que foi a guerra mas ele não deixa. Seu objetivo é claro: a guerra não acabou. Ele lutará até o fim porque não tem outro jeito.


     Ao mesmo tempo, sabemos da história do soldado nortista, Atticus Mann. Negro e rebelde, Atticus nasceu no Sul mas cedo fugiu para o norte em busca de uma vida melhor. Foi alistado e voltou para guerrear contra o Sul. Através de Atticus vemos a realidade do negro nos Estados escravagistas do Sul. A repressão e o racismo forte que havia e a luta pela sobrevivência.


     Sobre a Guerra da Secessão, cabe uma explicação. Tudo começou porque os Estados do Sul que eram de economia agrícola e possuiam grandes latifúndios eram contra a libertação dos negros escravos que eram a mão-de-obra barata indispensável.  Como Abe Lincoln que era presidente em 1861, queria a abolição fez se a guerra. Porém mesmo com a vitória do Norte e a sua libertação, os negros foram marginalizados por falta de políticas públicas por parte do governo. 


     Loveless tem uma trama bem elaborada e abusa dos flashbacks 'ao vivo' - um recurso em que cenas do passado e do presente aparecem simultaneamente. o que a principio tende a confundir mas chama atenção para pontos capitais da trama.


     Uma pena que foi cancelada nos States no n°24 se não me engano mas Azzarello fez questão de fechar o arco que conclui na edição 21 e publicar mais 3 histórias que falam sobre os destinos de alguns personagens que aparecem durante a trama, falando um pouco sobre as consequências da guerra civil e o futuro.

     Sobre a arte, Loveless é um show. A diversidade de desenhistas que tem estilos tão diferentes e que a principio podem confundir um pouco o leitor mostra-se uma idéia brilhante devido a qualidade dos mesmos. A diversidade enriquece a experiência da leitura.
Marcelo Frusin, velho conhecido do público com Hellblazer,  está muito em forma e suas cenas e enquadramentos são dignos de grandes clássicos de faroeste, criando um clima de deixar Sérgio Leone babando. 
Danijel Zezelj  é muito bom e talvez seja a grande surpresa da série - com seu  traço peculiar - mais carregado e sujo, contrastando com o estilo limpo de Frusin, constrói sequências incríveis e sabe passar a emoção dos personagens. São suas algumas das melhores histórias da série.
Wherter Dell´Edera talvez seja o mais fraco dos três mas não gosto dessa palavra que não o define. Tem um estilo limpo e estilizado e peca algumas vezes mas conta a história de maneira dinâmica e segura. 

     As cores são perfeitas, contribuindo para o clima das histórias e respeitando o traço de cada um dos desenhistas. trabalho mais do que competente. do trio  Patrícia Mulvihill, Martin Breccia e Lee Loughridge. Belíssimo trabalho.


     Loveless é uma dessas histórias que por mais que se fale não se consegue exaurir o tema. Há sempre mais alguma coisa a se descobrir , um angulo novo, um detahe que passou. Seja no argumento ou na arte. Vale a pena dar uma conferida. Aposto que deverá ficar na sua estante num lugar bem especial.

Aqui a Panini publicou a série na íntegra em 4 encadernados que já saíram há algum tempo mas ainda se pode achar com relativa facilidade.

Recomendo.






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